Em julho do ano passado, terminei de assistir “A Viagem” pelo GloboPlay e pude perceber o porquê ela é tão amada e cultuada pelos noveleiros e também por quem é praticante ou se interessa pela Doutrina Espírita. Escrita por Ivani Ribeiro e com colaboração de Solange Castro Neves, a novela é um remake da história também escrita por Ivani e exibida pela TV Tupi em 1975, sendo que nesta releitura, o título atingiu a alcunha de clássico, ao mostrar um senhor novelão, que nos envolve e nos emociona ao longo dos 167 capítulos.
Acompanhamos a saga de Alexandre (vivido brilhantemente por Guilherme Fontes), que matou um homem em uma tentativa de roubo. Ao fugir da polícia, é delatado pelo irmão Raul (Miguel Falabella) e pelo cunhado Téo (Maurício Mattar), casado com Diná e que vive uma relação tóxica com ela. O famoso criminalista Otávio Jordão (Antônio Fagundes) não aceita defendê-lo nos tribunais, pois a vítima era um amigo pessoal. Para ajudá-lo, Alexandre conta apenas com a irmã mais velha, Diná (Christiane Torloni), que luta para livrá-lo da cadeia. Até mesmo a namorada Lisa (Andréa Beltrão) o abandona. Condenado, o rapaz comete suicídio na prisão, amaldiçoando todos que o traíram.
A partir daí, Diná passa a nutrir uma raiva imensa por Otávio, mas com o passar das semanas, acaba conhecendo mais sua vida e uma grande paixão vai surgir e junto dela, inúmeros desafios para que fiquem juntos eternamente. Ao mesmo tempo, o espírito de Alexandre planeja uma vingança contra os que lhe viraram as costas. Seus principais alvos são Raul, Téo e Otávio, sendo que Dr. Alberto, médico da família e adepto do espiritismo, tentará por meio de reuniões mediúnicas, conscientizar o espírito atormentado de Alexandre do mal que causa às pessoas.
Este é apenas um resumo de uma história memorável e que atravessa gerações. Há vários e vários pontos a se destacar na produção deste remake e preciso ressaltar a escalação perfeita do elenco! Todos estão muito bem em seus papeis e passam uma veracidade que impressiona há 30 anos, sendo que Christiane Torloni está em seu melhor papel e a química com Fagundes é arrebatadora, pois desde o início, mesmo o odiando, você já torce para que Diná assuma seu amor por Otávio.
Guilherme Fontes então está impecável como Alexandre, muitos até hoje tem medo do personagem, tamanho o poder que ele tinha quando estava em cena. Muitas vezes, ele nem precisava falar absolutamente nada, apenas pelo olhar você já entendia tudo o que ele estava sentindo e isso é atributo dos grandes atores. As inseguranças de Lisa também são muito bem colocadas, ao lutar pela felicidade do Téo, e Andréa Beltrão consegue em cada pausa e entonação fazer com que torçamos pela sua felicidade e paz.
É preciso enaltecer as ótimas tramas paralelas que foram construídas e que fazem uma ótima costura do folhetim. Como por exemplo, a relação de Diná com sua irmã Estela. Inclusive, Lucinha Lins faz muito bem o papel de irmã da protagonista e também protagoniza sua própria história, ao sua personagem lidar com o retorno de seu ex-marido Ismael e a rebeldia de sua filha Bia, que é o melhor papel de Fernanda Rodrigues, com tão pouca idade e com um talento impressionante!
Comandando o núcleo cômico da novela, Nair Bello faz a Dona Cininha, que tem uma pensão no bairro onde todos moram e onde há várias tiradas maravilhosas de uma personagem que me arrancou várias risadas. Nesta pensão, vários personagens moram, incluindo Zeca e Sofia, que descobre estar grávida mas não deseja revelar para ninguém quem é o pai. Ao mesmo tempo, os dois se apaixonam e precisam lidar com um segredo que surpreenderá a todos. Este casal é o que eu mais gosto depois dos protagonistas e é interpretado magistralmente por Roberta Índio do Brasil (uma excelente atriz) e Irving São Paulo, mas o seu desfecho foi o único que achei equivocado e um tanto quanto confuso, com pontas soltas que faltaram explicações.
Além disso, Laura Cardoso está perfeita como Guiomar (a sogra de Raul) e mostra porquê é uma das maiores atrizes do mundo e Yara Cortês como Dona Maroca (a mãe de Diná, Estela e Raul) traz uma sutileza emocional que poucas atrizes conseguem. E não poderia deixar de falar das maravilhosas trilhas nacional e internacional, incluindo o icônico tema de abertura composto e gravado por Roupa Nova, Blitz, Lulu Santos, Yahoo, Patrícia Marx, The Cranberries, Pretenders, dentre outros artistas.
Finalizando esta minha breve síntese, digo que celebrar os 30 anos de “A Viagem” não é apenas celebrar um ótimo produto televisivo, mas também encontrar um conforto e reflexões super pertinentes em uma sociedade ainda muito carente de amor
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