Vegetais podem atrair presas simulando um orvalho ou abrigo. Brasil tem o maior número de espécies criticamente ameaçadas do mundo por causa da conversão de terras para a agricultura, diz estudo de especialista.
Por: G1
Nem sempre as armadilhas das plantas carnívoras são óbvias e visíveis como a boca de uma Nephentes ou as garras de jaula da famosa dionaea ou apanha-moscas, uma das espécies mais conhecidas no Brasil.
Suas artimanhas também podem aparecer na forma de um ‘belo orvalho’ – que, na verdade, é uma cola – ou até mesmo na de um ‘abrigo’ debaixo da terra ou da água, que, de repente, pode sugar as presas.
As capturas das plantas carnívoras também vão muito além dos insetos: algumas podem comer larvas, vermes, protozoários, sapos e até roedores ou pássaros mais distraídos. Veja abaixo um infográfico sobre cada tipo de armadilha.
Nessa reportagem você ainda pode conferir:
- Por que as plantas carnívoras comem insetos?
- Elas conseguem capturar animais maiores?
- Qual é a maior do mundo?
- Plantas carnívoras são venenosas? Podem ‘morder’ o dedo?
- Quantas espécies existem e quais estão ameaçadas de extinção no Brasil?
![](https://s2.glbimg.com/upa3L12iue_NnBZcP8psnyonNKU=/0x0:1200x7176/1000x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/E/G/wBaGwFSwOhhRmodP2ndQ/1309-plantas-carnivorasv-1-.jpg)
A síndrome carnívora se desenvolveu como um mecanismo de sobrevivência de plantas localizadas em ambientes com solo pouco fértil, explica Julio Santiago, mestrando em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os insetos, contudo, são uma fonte complementar de nutrientes, e não a principal.
“A principal fonte de energia das plantas carnívoras ainda é o sol, pois, assim como a maioria das plantas, elas fazem fotossíntese”, ressalta o professor Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
Os insetos servem, na verdade, para complementar nutrientes que existem em pouca quantidade no solo onde vivem as plantas carnívoras, como o nitrogênio e o fósforo.
![Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago - UGMG](https://s2.glbimg.com/XfITJ_8BZ6bPReUcr5ikK1TM2wo=/0x0:529x355/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/0/Q/WGkbQNQAeSAnwUuZ6wtA/2.jpeg)
Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago – UGMG
Podem capturar animais maiores, como ratos e pássaros?
Sim, mas de forma acidental e não são todas as espécies que conseguem. As Nephentes, por exemplo, têm estruturas para capturar animais um pouco maiores por causa do seu formato semelhante a um jarro.
“Os insetos são as presas principais das plantas carnívoras. Pequenas aves ou roedores são presas eventuais, que podem cair na armadilha atraídas pelos próprios insetos capturados ou pelo açúcar que a planta libera”, diz Gonella.
A depender do tamanho do bicho, as plantas podem até apodrecer por causa da dificuldade de digerir uma quantidade muito alta de nutrientes.
![Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG](https://s2.glbimg.com/io0dFDVXFHKtUoxXknJ8XbK4XNM=/0x0:478x706/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/M/M/ny4UiFSyeWeVAvshySXw/whatsapp-image-2022-08-26-at-11.57.53-3-.jpeg)
Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago – UFMG
Qual é a maior do mundo?
Há duas espécies que estão, até o momento, entre as maiores do mundo, e que podem atingir até 1,5 metro de altura: a Drosera magnifica e a Nephentes rajah, diz Santiago.
A Drosera magnifica é originária do estado de Minas Gerais, enquanto a Nephentes rajah, da Ilha de Bornéu, do Sudeste Asiático.
Plantas carnívoras são venenosas? Podem ‘morder’ o dedo?
Nenhuma planta carnívora que se tem conhecimento é venenosa ou tóxica e tampouco tem interesse na carne humana.
“[Se você colocar o dedo], pode até estimular [a planta], mas não o suficiente para prender. Em muitos casos, nem vai estimular, porque a sinalização química [que incentiva a captura] está relacionada à quitina, uma proteína presente no exoesqueleto dos insetos”, explica Santiago.
No momento em que o inseto pousa em uma planta carnívora, há uma sinalização química da presença quitina que faz o vegetal reconhecer a presença de um alimento promissor.
Espécies pelo mundo e ameaça de extinção
![A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG](https://s2.glbimg.com/f9kBmCov2QjtZCQlAucr6jqTmXQ=/0x0:1280x720/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/g/I/YvwAoPQmiAL2kfz2tr6w/1.jpeg)
A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago – UFMG
No mundo, há cerca de 860 espécies de plantas carnívoras conhecidas, sendo que a maior parte delas são dos gêneros Drosera, Utricularia e Nephentes.
Os dados são do estudo “Conservação das plantas carnívoras na Era da Extinção”, publicado em 2020 por Gonella e outros autores, na revista científica Global Ecology and Conservation.
O Brasil é o segundo país com o maior número de espécies (cerca de 130), perdendo apenas para a Austrália, que tem aproximadamente 250.
Quando se trata das que estão ameaçadas de extinção, há, hoje, cerca de 193, o que representa 20% do total das espécies.
Dessas, 28 estão no Brasil, das quais 13 são classificadas como “criticamente ameaçadas”. O Brasil é o país com o maior número de espécies nesse estado, mostra o estudo de Gonella, que adota critérios de classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
![Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS](https://s2.glbimg.com/Iug2JkVbXtcCffcz5-LbEZVWsPE=/0x0:494x366/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/H/7/C7EhJkQYGN4InkbxoU8A/philcoxia.png)
Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS
O gênero Philcoxia, que só existe no Brasil – mais especificamente nos biomas Cerrado e Caatinga –é o que mais preocupa, pois 100% dele está ameaçado, conta o professor da UFSJ.
Essas plantas crescem em areias muito brancas e dão flores de cor lilás. Elas se alimentam de pequenos vermes que vivem no solo, a partir de armadilhas adesivas em folhas que ficam debaixo da terra.
Outro gênero em risco no Brasil é a Drosera, com 40% de plantas ameaçadas.
“O Brasil tem uma responsabilidade muito grande na conservação de suas espécies carnívoras. Um dos principais fatores que está causando isso [a ameaça de extinção] é a destruição dos habitats para conversão para a agricultura”, diz Gonella.
“O uso de fertilizantes e pesticidas na agricultura tornam o solo mais rico do que eles são originalmente, fazendo com que outras espécies invadam esses locais e acabem competindo pelos habitats das plantas carnívoras”, acrescenta.
![À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto](https://s2.glbimg.com/eWY4rC3vopWqVrSBTouA9mtGRuI=/17x12:1019x588/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/S/J/dL83TfSjSx8CzfxKAZdg/1663970178266022.jpg)
À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto