A gente percebe que está ficando velho quando um álbum brasileiro tão antológico acaba de completar 20 anos de lançamento, pois foi exatamente essa a minha sensação quando me dei conta de que “Admirável Chip Novo” estreou em 2003.
Me lembro exatamente de escutar “Teto de Vidro” na rádio o tempo todo, o maior hit daquele ano e do ano seguinte e como Pitty já me chamava a atenção desde quando eu era criança, por sua personalidade única e uma digital artística que mexia (e ainda mexe) muito comigo. Lançado pela Deskdisc, o disco já começa com uma pedrada, que é a canção que mencionei acima, com uma letra ainda muito atual e que nos faz pensar sobre esta cultura do cancelamento ainda mais presente com os famosos “donos da verdade” das redes sociais.
Continuando no mundo digital, Pitty mostra que estava à frente do seu tempo em 2003, ao compor “Admirável Chip Novo”, a segunda faixa do disco e com rifles de guitarra bem conhecidos até hoje pelos fãs, além de um refrão que ecoa nos ouvidos de todos que tem seu pensamento crítico aguçado pela superficialidade e manipulação das redes.
Se você pensa que as pedradas pararam por aí, está totalmente enganado, pois “Máscara” é uma grande porrada, como diria Faustão. O clamor de Pitty por buscarmos ser quem nós verdadeiramente somos deveria ser um lema de vida para toda a sociedade, sendo que muitos se preocupam em colocar máscaras nos outros, ao invés de pensar em suas verdadeiras essências.
A quarta faixa dá um leve respiro com uma balada romântica que é um dos maiores sucessos da carreira da cantora. “Equalize” tem um quê de Red Hot Chili Peppers, mas ao mesmo tempo tem uma marca muito própria, ao ter uma letra com muitos versos e que ao mesmo tempo consegue ser cantada a plenos pulmões por todos os que vão ao show de Pitty, tamanha a força do sucesso da canção. Uma canção que fala, além do amor romântico, sobre autoconhecimento e isso merece sempre ser reverenciado.
Ao longo das 11 faixas de “Admirável Chip Novo”, vemos que Pitty, sua banda e o produtor Rafael Ramos estavam inspiradíssimos, pois o disco não envelheceu mal, pelo contrário, ainda é super atual e contém versos que podemos inserir perfeitamente em nossa realidade de 2023. Cito “Lobos” para isso, cujas frases dizem “Não houve um tempo em que o homem por sobre a Terra viveu em paz. Desde sempre tudo é motivo, pra jorrar sangue cada vez mais”.
Também temos “Temporal”, um hino sobre amadurecimento para tomada de decisões e um arranjo belíssimo de cordas, o que mostra também a versatilidade do álbum e como ele pode agradar vários ouvidos musicais, desde os mais rockeiros até os mais clássicos.
Por fim, gostaria de destacar a última faixa, “Semana Que Vem”, uma música que traz um significado bem parecido com “Tempo Perdido” da Legião Urbana, isto é, traz para a geração dos anos 2000 como a noção de tempo para a conquista de nossos ideais está cada vez mais volúvel e no final das contas, o que vale é aproveitarmos cada segundo como buscando a essência da nossa felicidade.
“Admirável Chip Novo” não é apenas um disco para os amantes de rock nacional, é um conceito para os amantes de música, não é a toa que já completou 20 anos colhendo muitos louros (mais de 200.000 cópias vendidas) e também teve uma versão 2.0 lançada semana passada no Spotify,com Ney Matogrosso cantando “Máscara”, Pablo Vittar cantando “Equalize”, Emicida cantando “Teto de Vidro”, Sandy cantando “Temporal” e tantos outros artistas da cena atual.
Que possamos sempre apreciar um ótimo produto, pois música boa é aquela que é como vinho: quanto mais velha fica, melhor é de ser apreciada.
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