Quinta-feira, dia 12 de setembro de 2024. Nesta data, estreou o tão falado e polêmico filme “Sílvio”, ainda disponível nos cinemas de todo o Brasil e estrelado por Rodrigo Faro e que se propõe a contar a história do ser humano Senor Abravanel, à partir do recorte que mostra o sequestro em que o animador e empresário sofreu por Fernando, um dos sequestradores também de Patrícia Abravanel. Mas afinal, por que esta expectativa sobre o longa causou tanta polêmica?
Antes de responder a este questionamento, vamos ao filme em si, que me surpreendeu bastante. Achei assertiva a forma que a produção escolheu em contar uma história de um dos brasileiros mais conhecidos da história, pois ao mesmo tempo em que parte de um recorte super conhecido (o sequestro de Sílvio), o roteiro mostra camadas ainda pouco exploradas da trajetória de Senor, como o afastamento de sua filha Cíntia e o romance/casamento escondido com Cidinha, sua primeira esposa. Portanto, o longa de forma alguma é “Chapa fria”, isto é, só ressalta os pontos positivos de uma trajetória para não mostrar lados obscuros. Pelo contrário, quis humanizar ainda mais as facetas de empresário, empreendedor e comunicador de Sílvio Santos.
O longa pouco conta sobre o sequestro sofrido por Patrícia (por sinal, representada muito bem pela atriz Polliana Aleixo) e decide focar mais nas inseguranças e forças de um homem que buscou a todo instante salvar não apenas a si próprio e a família, mas também o próprio sequestrador. Johnnas Oliva está impecável no papel, pois além de causar a repulsa do público, também repassa uma certa empatia, ao mostrar seu desencontro em si próprio. E é justamente o diálogo entre dois homens (Sílvio e Fernando) que é o ponto alto do longa, pois isso poderia se tornar bem cansativo, mas a iniciativa em mesclar esta tensão com flashbacks específicos tornou-o mais ágil e me fez prestar atenção durante as quase duas horas de duração, mérito também da direção bem assertiva de Marcelo Antunez.
Também gosto muito da forma como é retratada a relação de Sílvio com Manoel de Nóbrega, o responsável pela ascensão do empresário. É algo pontual, mas que trouxe uma camada a mais de emoção para o filme e foi um ponto alto para mim.
Preciso destacar a presença da atriz Bruna Aiiso no filme. Interpretando a delegada Civil Laura, Bruna tem um importante papel para a representatividade amarela, pois além de representar uma policial verdadeiramente amarela, ela traz à tona uma discussão muito pertinente sobre o machismo no mundo policial, através de colocações bem importantes no roteiro.
Gosto muito da firmeza de Bruna em cada fala e como ela passa uma naturalidade incrível em cada cena, nos inserindo naquele contexto delicado, difícil e que trouxe várias camadas.
Agora voltando para pergunta mostrada no início deste texto: por que Rodrigo Faro foi tão duramente criticado? Claro que outras questões de sua carreira foram levadas em consideração pelo famoso tribunal da internet, que não sabe separar as coisas e reconhecer um trabalho bem feito, principalmente quando ele é feito por alguém que não se é aprovado.
Em minha opinião, a verdade é que sim, Rodrigo Faro está muito bem no papel, que foi muito além de uma mera caricatura ou imitação de Sílvio Santos. Ele soube imprimir nuances mais profundas e pude perceber a tensão de Senor Abravanel naquele sequestro, me esquecendo por vários momentos de que se tratava de Faro em um filme, cujo únicos erros foram uma caracterização um pouco exagerada e uma falha de comunicação no início, ao vazar imagens e trailers antes da hora.
O roteiro é bem amarrado, a fotografia mais escura foi bem escolhida e as interpretações merecem aplausos. Como disse um grande amigo meu, João Marcos Carneiro, em seu canal, Cultura Pop & Cia, é muito fácil criticar Rodrigo Faro por sua interpretação, mas duvido quem daria a cara à tapa para encarnar esta dificílima missão. Claro que um artista precisa estar sujeito às críticas do público, mas quando estas críticas partem para o lado pessoal sem ao menos sequer prestar atenção no filme, elas são muito mais lamentáveis do que necessárias.
Resumindo a ópera, me surpreendi positivamente com o filme “Sílvio”, o melhor retrato sobre Senor Abravanel já disponibilizado no audiovisual, e pude perceber que o cinema nacional ainda pode brilhar muito e nos emocionar com boas histórias.
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