Irene Redfield e Clare Kendry têm algo em comum: ambas são mulheres negras de pele clara que podem se passar por brancas. Essa, porém, é a única similaridade entre elas. Após perderem contato durante a adolescência,as duas se reencontram por acaso em uma cafeteria de um hotel em Chicago. Um encontro que muda para sempre a dinâmica entre as duas mulheres, suas famílias e suas comunidades.
Esta é a sinopse de “Identidade”, livro de Nella Larsen, escritora que infelizmente teve apenas três livros publicados, pois seu potencial em trazer histórias duras, potentes e profundas era imenso! Com esta obra não foi diferente, pois Nella soube montar uma trama que ainda é muito atual e ressoa nos ouvidos de todas as pessoas que, de alguma forma, já sofreram racismo (seja ele explícito ou cultural).
Irene e Clare vivem diariamente com suas contradições e coerências e isso me chamou muito a atenção: os capítulos (distribuídos em três partes) conseguem nos mostrar um perfil mais denso de cada uma e é justamente com este mergulho que passamos a entender um pouco mais sobre uma ferida que continua muito aberta e que precisa ser falada, isto é, sobre o necessário letramento racial.
Além disso, a obra traz algumas reviravoltas muito interessantes e que mantém o ritmo forte da leitura, que pode ser facilmente finalizado em poucos dias, pois você não vai querer deixar de lê-lo, para descobrir os acontecimentos dos próximos capítulos. Vendo a análise da artista Sophia Abrahão em seu clube de discussões, concordo que o livro só pecou um pouco por não trazer um perfil mais detalhado de Brian (marido de Irene) e de seus filhos, além da filha de Clare, pois entendo que o foco ficou centrado nas duas mulheres, mas presenciar este universo mais expandido com mais conflitos e emoções de cada personagem tornaria o livro ainda mais interessante.
A publicação pode ser conferida no formato cinematográfico, pois a Netflix adaptou a história de uma forma praticamente fiel e é uma experiência interessante conferir de uma forma ainda mais prática todas as reflexões que o livro possui.
Pela sua pulsação alucinante, pela sua ousadia, pela sua atualidade e pelo final que deixa margem para múltiplas interpretações que considero “Identidade” um perfeito e necessário livro de cabeceira.
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