sexta-feira, 26, julho 2024
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Tubarões com câmeras acopladas ajudam cientistas a descobrir o maior prado aquático do mundo

Pesquisadores aproveitaram o fato desses animais nadarem cerca de 70 km por dia para coletarem dados sobre a 'floresta' de gramíneas subterrâneas nas Bahamas

Os tubarões-tigre escolhidos pelos cientistas para transportar sensores de geolocalização e uma câmera de 360 ​​graus não conheciam sua missão, mas essa parceria permitiu a descoberta do maior prado de ervas marinhas detectado até agora no mundo. Fica nas Bahamas e ocupa 92.000 quilômetros quadrados. Essas pastagens são essenciais para capturar carbono, o principal gás de efeito estufa; como habitats de espécies marinhas ― inúmeras pescarias dependem delas ― e como defensores das costas contra a erosão, tempestades e tsunamis. O maior perigo hoje são as âncoras dos grandes iates que se acumulam na área, especialmente no inverno. O sucesso do método nas pesquisas lideradas pela Beneath the Waves (BTW), ONG americana que luta pela conservação dos oceanos, abre a possibilidade de utilizar grandes animais marinhos para explorar essas massas de água.

Os dados recolhidos pelos tubarões (Galeocerdo cuvier) , o maior predador marinho dos mares tropicais, validaram os principais dados cartográficos tratados pela equipa de cientistas publicados nesta terça-feira na revista científica Nature Communications. Beneath the Waves vem monitorando o comportamento das espécies, protegidas pelo Governo das Bahamas, há décadas para determinar como as áreas marinhas que frequentam poderiam ser melhoradas. O tubarão-tigre, além de ser um parceiro de pesquisa, contribui para manter a saúde das pastagens ao predar espécies herbívoras como tartarugas marinhas, dugongos, peixes-boi e outras, que ao se alimentarem dessas gramíneas podem causar seu declínio. Em busca de sua iguaria favorita, as tartarugas verdes, os tubarões passam 72% do tempo patrulhando esses fundos marinhos e nadam cerca de 70 quilômetros por dia.

Os cientistas aproveitaram seus costumes para mapear a imensa pradaria. Carlos Duarte, professor de Ciências Marinhas da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (Arábia Saudita) e coautor da pesquisa, explica que eles completaram os dados oferecidos pelos tubarões com 2.400 mergulhos subaquáticos e estimativas anteriores de satélites.

― Com os mergulhos dos mergulhadores cobrimos apenas 5% da área, então seria impossível sem os dados fornecidos pelos tubarões ― ressalta Duarte.

Usar tubarões que podem medir até 5,50 metros e pesar mais de 570 quilos não é fácil. Após capturá-los com uma isca, são imobilizados, implantados sensores e liberados.

― São animais perigosos, que causam mortes, e mais ainda se estão em perigo ou estressados ― diz Duarte.

Austin Gallagher, cientista-chefe e CEO da BTW, descobriu que os tubarões-tigre atravessavam os leitos de ervas marinhas. Compartilhando suas informações com Duarte, eles decidiram equipá-los com câmeras de 360 ​​graus e tentar monitorar toda a área. No total, eles colocaram 15 dispositivos, oito de posição, temperatura e outros parâmetros, e sete câmeras. A única maneira de recuperar os sensores é liberá-los após um tempo programado, pois é muito difícil recapturar os tubarões.

O maior prado de gramíneas submarinas encontrado até agora foi localizado em 2009 na Grande Barreira de Corais da Austrália, com uma área de 40.000 quilômetros quadrados, metade da recentemente mapeada nas Bahamas. Este último conterá cerca de 20% do carbono capturado no mundo, calcula Duarte. Nesse sentido, as ervas marinhas cumprem a mesma função dos ecossistemas terrestres, mas com melhores resultados ao sequestrar dez vezes mais carbono por hectare do que a floresta amazônica. Daí a importância dessas plantas superiores (com flores e reprodução por sementes) que se adaptaram à vida submarina, como a Posidonia no Mar Mediterrâneo. Existem cerca de 70 espécies de plantas, enquanto na Terra existem cerca de 350.000.

Pesquisadores acoplam câmera em tubarão, nas Bahamas — Foto: Divulgação / Beneath the Waves

Pesquisadores acoplam câmera em tubarão, nas Bahamas — Foto: Divulgação / Beneath the Waves

A importância da descoberta não impede Duarte de refletir sobre as razões pelas quais tal extensão “nos escapou no século XXI, estando apenas entre os 10 e os 15 metros de profundidade”.

― [Este fato] não nos deixa muito bem e é um sinal inequívoco do pouco conhecimento que existe sobre o oceano ― alerta Duarte.

Gallagher acrescenta que essa descoberta mostra que “tudo está conectado”. Ele se refere ao fato de que a proteção da espécie nas Bahamas facilitou seu estudo, o que desencadeou “tubarões para nos levar ao ecossistema de ervas marinhas que agora sabemos ser provavelmente o mais importante sumidouro de carbono azul do planeta”.

― Podem desempenhar um papel crucial na desaceleração da emergência climática ― disse Gallagher, em relação à proteção das pradarias submarinas.

Por: oglobo.globo.com

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